Questões básicas sobre a “terra plana”

ATENÇÃO:

Fica evidenciado desde o início da pesquisa e coleta de dados sobre o assunto que o teor das informações divulgadas pelos principais canais, blogs ou outras fontes que apoiam a “teoria da terra plana” aponta para o seguinte:

Caso os valores ou quaisquer dados não sejam compatíveis com a realidade, não possam ser sustentados por QUALQUER motivo, ou se QUALQUER resultado se contraponha ao modelo da terra plana, eles PODERÃO ser e SERÃO descartados e substituídos por outros que se mostrem mais convenientes para a sustentação do suposto modelo TERRAPLANISTA”; mesmo que sejam tão absurdos ou inadequados quanto os anteriores, não importando a amarração lógica com qualquer outro apresentado a qualquer tempo.

Pode parecer uma piada de mau gosto, mas infelizmente não é.

O movimento “terraplanista” não é apenas um grito de supostos “questionadores” da ciência atual. É muito mais do que isso.

Trata-se de um fenômeno social.

Infelizmente o avanço desenfreado do que podemos chamar “pandemia” Dunning Kruger tomou proporções absurdas.

Com a disseminação das novas tecnologias de comunicação, as redes sociais se tornaram um amplo campo para a criação das mais diversas e controversas teorias, conspirações e bizarrices.

Algumas inofensivas, outras altamente perigosas como o movimento “antivax”.

Mas infelizmente o movimento anticientífico, tem se mostrado em crescimento exponencial.

Não vamos tratar aqui da causa, ou seguir o rastro até o “paciente zero”, mas vamos trazer as ferramentas necessárias para frear e diminuir o avanço.

Convenhamos, em pleno século XXI ter que ficar “debatendo” o formato de nosso planeta é no mínimo surreal, mas tentaremos fazer um resumo do que está ocorrendo e de que forma esse verdadeiro surto de ignorância afeta diretamente alunos, professores e instituições.

O tema “terra plana” surgiu nas redes sociais a mais ou menos 4 anos.

Nos últimos dois anos o tema adquiriu muitos adeptos.

Isso se deve a vários fatores: A “teoria” possui algumas referências na história antiga da humanidade, pode ser “plausível” no âmbito religioso por “interpretações” bíblicas, possui ampla diversidade de assuntos pertinentes que vão desde topografia até astrofísica, permite que os “interlocutores” explorem uma ampla gama de questionamentos sobre vários temas, o que facilita o “moving target”, além de colocar qualquer um em posição de “aceitação instantânea” dentro de um grupo que se auto define como “os novos cientistas” ou a “ciência de verdade”.

Basicamente qualquer pessoa com nenhum aporte de conhecimento pode literalmente confrontar “o sistema”, a ciência, dizer (afirmar) qualquer coisa e ser aplaudido.

Direto ao Ponto:

Questões fundamentais que não possuem respostas:

Quando nos deparamos com debates entre defensores da teoria da “terra plana” e defensores do modelo atual, é muito comum que as discussões tomem o rumo absolutamente contrário ao da lógica.

Para os menos inteirados sobre os nuances do tema, pode ser difícil o raciocínio e até mesmo impossível estabelecer um diálogo.

É extremamente comum nos depararmos com algo do tipo “prove que a gravidade existe”, “o experimento do pêndulo de Foucault prova que a terra está parada”, “o sol pode ser um holograma, o magnetismo prova isso” e por aí vai.

Retóricas intermináveis que não fazem o menor sentido desgastam e geram mais dúvidas do que qualquer outra coisa.

Obviamente, isso trás de certa forma, um ar “intelectual” na discussão e aos menos avisados reforça a “seriedade” do assunto, mesmo que não tenham entendido do que se tratava o discurso.

Portanto vamos colocar aqui questões realmente simples, que devem ser propostas aos “teóricos da mítica terra chata” para que a discussão não avance (e ultrapasse) para as fronteiras do bom senso.

Devemos lembrar que durante esses últimos anos, inúmeros argumentos extremamente fantasiosos e complexos foram criados para sustentar o insustentável e “provar” o impossível. Então a melhor maneira de conduzir a conversa ou “debate” é questionar o simples, pois as questões simples e fundamentais simplesmente não tem resposta.

Questionando o básico:

Vamos dar um exemplo prático:

Imagine a teoria da “terra plana” como um belo apartamento sendo vendido “na planta”. Ora, quais as perguntas mais básicas que você faria ao vendedor?

Qual a metragem quadrada? Quantos quartos o apartamento possui? Onde está o projeto e a planta? Possui um modelo / maquete em escala?

A resposta 100% das vezes será: Não sabemos, estamos estudando ou o assunto mudará para a excelente vista para o mar, ou a claraboia da sala ou a iluminação do deck (os quais também não possuem medidas, projeto ou algo assim).

Portanto, se não há planta, não há obra. Simples assim.

Neste contexto, seguimos o raciocínio:

Quais as dimensões da “terra plana”?

Sabemos que nosso planeta é um esferoide oblato que possui medidas absolutamente conhecidas (deixaremos as principais listadas no final do tópico).

Portanto analisaremos Três modelos de “terra plana” que são comumente propostos pelos teóricos no que se refere às medidas fundamentais:

Modelo 01:

Aparência: Projeção cartográfica polar azimutal equidistante.

Diâmetro do disco plano: em torno de 12.756 km

Principais problemas:

  • Área superficial absolutamente incompatível possuindo apenas ¼ do mínimo requerido para comportar oceanos e terras emersas de nosso planeta.

Situação atual: Descartado, por razões óbvias.

Soluções apresentadas: N/A

Modelo 02:

Aparência: Projeção cartográfica polar azimutal equidistante.

Diâmetro do disco plano: em torno de 25.518 km

Principais problemas:

  • Com um raio de aproximadamente 12.756 km, não comporta a distância real de nosso planeta sobre o arco meridiano (norte-sul) que é de 20.001,6 km
  • A área do hemisfério norte, possui somente metade do valor real (porção central do disco delimitada pelo equador) e a área do hemisfério sul é maior do que a realidade.
  • Distâncias entre coordenadas não condizem com a realidade.

Situação atual: Uso ocasional em debates como demonstração de “pesquisa de campo” ou “dados” (sem comprovação)

Soluções apresentadas: Nenhuma

Modelo 03:

Aparência: Projeção cartográfica polar azimutal equidistante.

Diâmetro do disco plano: em torno de 40.000km.

Principais problemas:

  • Área total 2,5 vezes superior a do modelo atual de nosso planeta, ou 1,275 bilhões de km quadrados.
  • Distâncias entre coordenadas não condizem com a realidade e em alguns casos apresentam erros de dezenas de milhares de km.
  • Incompatibilidade total com 85% das medições.
  • Rotas marítimas e aéreas incompatíveis
  • Distorção severa na grade de coordenadas

Situação: Em uso, como referência principalmente para “cálculos astronômicos” que não são apresentados (seguindo o padrão de inconsistências).

Soluções apresentadas: Nenhuma

Conclusão:

Como podem ver, não existe nenhuma resposta coerente, nem mesmo nas questões mais fundamentais, o que já elimina qualquer possibilidade de avanço da discussão. Esse é o ponto onde os professores, educadores ou quaisquer outras pessoas devem estabelecer o limite do bom senso. Prosseguir além disso não leva a lugar algum.

Informações úteis:

Dimensões de nosso planeta:

  • Diâmetro equatorial: 12.756,28 km.  Valor adotado em 1976 pela União Astronômica Internacional (UAI) e pela União de Geodésia e Geofísica Internacional (UGGI) após medições com equipamentos modernos. 
  • Diâmetro polar: 12.713,5km 
  • Densidade: 5,52 
  • Satélites: 1 (Lua) 
  • Distância ao Sol: 1 Unidade Astronômica (Em torno de 150 milhões de quilômetros) 
  • Área total do planeta: 510,3 milhões km2 
  • Área das terras emersas: 149,67 milhões km2  ( 29,31% ) 
  • Área dos mares e oceanos: 360,63 milhões km2 ( 70,69% ) 
  • Área do Oceano Pacífico: 179,25 milhões km2, incluindo Mar da China Meridional, Mar de Ojtsk, Mar de Bering, Mar do Japão, Mar da China Oriental e Mar Amarelo (49,7% das águas) 
  • Área do Oceano Atlântico: 106,46 milhões km2, incluindo Oceano Ártico, Mar do Caribe, Mar do Norte,  Mar  Mediterrâneo, Mar da Noruega, Golfo do México, Baia de Hudson, Mar da Groenlândia, Mar Negro e Mar Báltico     ( 29,5% das águas ) 
  • Área do Oceano Índico:  74,92 milhões km2, incluindo Mar da Arábia, Golfo de Bengala e Mar Vermelho ( 20,8% das águas ) 
  • Profundidade média dos oceanos: 3.795 m 
  • Volume total das águas do planeta: 1,59 bilhões km3 
  • Circunferência da Terra no equador: 40.075 km 
  • Circunferência da Terra nos trópicos: 36.784 km 
  • Circunferência da Terra nos círculos polares: 15.992 km 
  • Circunferência da Terra nos meridianos: 40.003 km 
  • Diferença entre as circunferências equatorial e meridional: 72 km 
  • Velocidade orbital média: 29,79 km/segundo